Há até algumas agencias de turismo pelo mundo, vendendo pacotes de “aventuras culturais”, sinônimo de “viagem de férias comunistas”, ao antigo “Império do Mal”, que resiste ainda hoje com Cuba, Vietnã, Laos, Coréia do Norte, Camboja e Burma. (Mas uma delas adverte: “Nossos programas não são meras férias”. Um participante de um pacote a Cuba voltou com lembranças de “uma longa luta contra o comunismo”).
A melhor ideia que se pode ter do Laos foi dada pelos próprios laosianos (cerca de 5 milhões) quando batizaram de “koi koi bai” um pacotão de reformas econômicas que abriu o comunismo para o mercado livre. Ou seja: “devagar, devagar” — aliás, um lema nacional. Até 1990, o Laos tinha uma única linha de telefone internacional.
Ainda hoje o país vive como no tempo do príncipe Fa Ngum, no século XIV. A França o fez colônia, como toda a Indochina, e o deixou depois de “50 anos de siesta”.
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A principal indústria “pesada” do Laos é uma fábrica de palitos. Bicicleta — o transporte popular. Televisão — o anticoncepcional. Um dólar valia 8000 kips em 2011. A maior parte do povo vive no campo plantando arroz (alguns, maconha; e outros, a papoula do ópio) no vale do rio Mekong.
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Temor de poluição cultural
E os Estados Unidos fizeram dos laosianos as maiores vítimas de bombardeios aéreos no mundo, despejando a média de 300 quilos de explosivos para cada habitante entre 1964 e 1973, na “Guerra Secreta” para cortar a rota Ho Chi abastecimento de armas para os sul-vietnamitas.
Algumas bombas explodem ainda hoje, aleijando ou matando — minas não desenterradas, uma geração depois da Guerra do Vietnã, quando americanos e vietnamitas já estão em paz.
O Vietnã tornou-se uma atração turística da Ásia. Cruzeiros marítimos atracam nos portos das cidades de Da Nang e Ho Chi Min. Balneários de classe internacional vão surgindo no litoral. A China Beach ficou famosa ao aparecer como cenário da série de teve MASH, exibida em 50 países entre 1988 e 1991. Mas o Laos não tem mar, cercado pela China, Mianmar, Vietnã, Camboja e Tailândia.
E o governo laosiano parece ter tanto medo de uma “poluição cultural” contrabandeada por estrangeiros que só deixou entreaberta a porta do turismo. Mesmo o Camboja conflagrado pela guerrilha do Khmer Rouge oferece mais atrativos turísticos e opções para viajar.
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O segundo e o terceiro melhores programas do Laos são distantes da capital, Vientiane: a Planície dos Jarros, com estranhas, misteriosas urnas; e a cidade histórica de Luang Prabang. Mas em primeiro lugar, melhor até que belos templos budistas, que proliferam como pubs na Irlanda, é o povo.
Miscigenação Étnica
O laosiano não foi “corrompido”, ainda, pelo estilo ocidental de viver. Uma geração atrás, a maioria da população não sabia nem sequer dizer de que país era, não tinha andado de carro nem usado o telefone.
Um recente visitante, Stanlev Stewart, do jornal Sunday Times, de Londres, conta que o ritmo “koi koi bai” de viver, ou “devagar, devagar”, e sempre, levou-o, sem que se desse conta, ao estado de budismo “tanha”, em que cessam os desejos: “Não queria nada além de seguir sem rumo os dias laosianos fora do tempo”, escreveu Stewart, anos atrás.
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O laosiano é descendente do tailandês que migrou da China no século XIII. Ao norte, nas montanhas, sofreu influências sino-tibetanas, e ao sul e na área central, revela vestígios das tribos Mon-Khmer. A maioria, devota do budismo Theravada. convive com uma minoria animista.
Os cristãos partiram em 1975. Quase mais ninguém fala o francês; só o idioma oficial, o lao, e o dialeto tribal hmong, ou “meo”. Não existem tensões étnicas. E o exemplo vem de cima: o tradicional líder do movimento comunista do Laos, o ex-primeiro-ministro Kaysone Phomvihan, é filho de um casal vietnamita-laosiano.
O Laos era Lan Xang, ou “milhão de elefantes”, no reinado de Fa Ngurn, há 600 anos. A Birmânia, atual Mianmar, o invadiu em 1574. Depois, até o final do século XIX, foi dominado pelo Reino do Sião (atual Tailândia). Então, passou a ser uma colônia francesa. Na Segunda Guerra Mundial ficou sob controle japonês. Conquistou a independência em 1949.
Stewart, do Times de Londres, diz que a história do Laos no século XX não passa de uma “querela familiar” entre o príncipe Phetsarath, citadino e neutralista, e seu meio-irmão e também “Príncipe Vermelho”, Souphanou Vong, líder dos guerrilheiros marxistas do Pathet Lao (o Partido Comunista laosiano).
“Deixados a sós, os príncipes talvez chegassem facilmente a uma acomodação”, ele acrescenta. “Mas vários sinistros generais, apoiados pela Central de Inteligência Americana (CIA), promoveram tantos golpes que a situação foi ficando cada vez pior”.
Uma guerra civil opondo três frentes de combate eclodiu no final dos anos 50. Para a espionagem americana, parecia um jogo de palavras: de um lado estava Phouma; de outro, Phoui; e o terceiro era Phoumi.
“Lendo relatórios do front, um oficial (americano) reclamava nunca saber com certeza se estava diante de um importante desdobramento militar ou de um simples erro tipográfico”, brinca Stewart.
Sob pressão do fim do comunismo no Leste Europeu, no final da década de 1980, a República Popular Democrática do Laos (Sathalanalat Paxathipatai Paxaxon Lao) começou a mudar. Elegeu uma Assembleia Constituinte em 1989. Assinou acordos com o Japão em 1990. Em 1993, começou a cooperar com os Estados Unidos na busca de soldados americanos desaparecidos em combate.
Em 1994, ligou-se à Tailândia por uma ponte sobre o rio Mekong — e, por acordos, ao Camboja e Vietnã. Mas não promoveu a abertura política tão esperada. Reprimiu manifestações de protesto. E manteve o regime de partido único.
Um safári no Laos, a 10 fusos horários do Brasil, requer boa saúde, além de torcida contra acidentes. Entre os poucos médicos, a maioria só dá consulta por dinheiro, sem convênios com planos de saúde internacionais. Os hospitais são limitados, “primitivos”, segundo um alerta do Departamento de Estado norte-americano. E os bancos de sangue não submetem seus doadores a exames de HIV.
Também existe uma pequena infra-estrutura turística. Velhos táxis rodam sem taxímetro. Raro o motorista que fala um pouco de inglês. Reina o caos no trânsito. E na rodovia 13, entre Kasi e Luang Prabang, e na rodovia 1, ao sul de Mouang Khoune, na província de Xieng Khouang, gangues de bandidos armam emboscadas contra os viajantes.
Com meio milhão de habitantes, Vientiane é a segunda menor capital do Sudeste da Ásia, maior só mesmo do que Bandar Seri Begawan, em Brunei. Virou capital em 1563, por decisão do rei Setthathirat, herdeiro de 800 anos de reinado em Luang Prabang, a cerca de 500 quilômetros.
Na cidade estão vários belos templos, um arco do triunfo imitando o original L’Arc de Triomphe, em Paris; o Parque Buda com suas gigantescas estátuas religiosas de concreto, e o solitário Museu Revolucionário Nacional, com sua exibição permanente, e ao vivo, de uma ideologia em extinção.
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